JACQUELINE ARONIS nasceu em São Paulo em 1955.
"DESDE A INVENÇÃO DA PRENSA ATÉ O ADVENTO DA POP ART a gravura teve um papel importante na divulgação não apenas da literatura mas também de obras de arte, popularizando-as e expandindo as possibilidades de acesso e consumo de imagens. A tradição no uso da prensa para criar e produzir trabalhos de arte possibilitou a artistas do século XX o uso de uma variedade de técnicas e um amplo universo de escolhas. No entanto, talvez em decorrência da ganância tout court do mercado de arte e de certo snobismo da crítica, dos curadores e colecionadores, a gravura foi sempre tomada como uma prática menor, uma expressão paralela dos grandes mestres da Modernidade, apesar das magníficas realizações de artistas como Picasso, Miró e Beckmann entre tantos outros.
OS ARTISTAS DA POP ART DESCOBRIRAM NA GRAVURA não apenas uma técnica conveniente, mas um meio que realçava o sentido simbólico de seus trabalhos, produzindo múltiplos ajustamentos ao ideário do movimento e determinando o estilo de representação que lhe é característico. Embora distantes dos buris e goivas - instrumentos que privilegiam a mão, o gesto e a emoção no ato de gravar - os pops se concentraram nas técnicas industriais de reprodução (litografia, off-set, silk-screen) como forma de desacreditar a presença do humano no trabalho de arte e criar a natureza introvertida do Expressionismo Abstrato que os precedia no tempo. Contemplando o ambiente ao seu redor, orientado pela economia de larga escala e pela ideologia do consumo, os pops emprestaram dos out-doors, dos rótulos, das revistas, da propaganda, da comunicação visual e tema para seus trabalhos, explicitando a soberania dos industrializados e das representações geradas pelo mass-media. Os meios industriais de reprodução utilizados por eles asseguraram uma extraordinária coerência entre os métodos e objetivo, confirmando sua direta conexão com o grau de industrialização da sociedade de onde eles emergiam. De um lado, criaram objetivos de arte que espelhavam a produção de não-objetos de arte pela sociedade. De outro lado, o modo de produção definiu o caráter essencial de uma era onde, embora banal em sua aparência, este mesmo objeto foi elevado a categoria de um artefato estético.
NO ESTEIO DESTAS TRANSFORMAÇÕES, a noção de gravura como meio expressivo, como linguagem, como conceito e, sobretudo, como modo de reprodução de imagens, foi resgatada e instalada novamente no território das práticas artísticas contemporâneas, associada ou não aos processos manuais, industriais e tecnológicos. No Brasil, entretanto, a gravura tem outra historia. Ela tem sido fundamental na criação e sustentação na criação do circuito artístico local se não quisermos lembrar de que toda Historia da Arte que aprendemos foi através de reproduções em livros e slides. Desde os modernistas muitas escolas e núcleos de formação de artistas se criaram em torno de ateliers de gravura ou gravura ou contaram coma participação de gravadores, configurando um território especifico e com tradição própria, ao contrário de outras linguagens que reivindicam sua filiação à arte internacional. Como observou Tadeu Chiarelle no catálogo A Gravura Paulista(1995), "a gravura em suas modalidades mais convencionais (...) conta muito. ... Pode-se dizer que um dos núcleos mais vitais da arte brasileira recente encontra-se justamente neste território, sobretudo, no território da jovem gravura paulista. ... (ela) continua investindo na imagem autoral, na subjetividade, nos procedimentos centenários dos vários modos de gravar uma matriz e, na produção de alguns gravadores - pasmem!-, na negação do próprio caráter de reprodução da imagem gravada, tido como inerente à gravura que eles tanto prezam".
AS GRAVURAS DE JACQUELINE ARONIS inscrevem-se neste quadro de negação da reprodutibilidade e seriação da imagem gravada. Mais: constituem-se numa estratégia estético-ideológica, contraria aos processos de popularização da imagem para afirmar o sujeito, o artista criador em sua viagem solitária e em desencantamento com o mundo, onde o trabalho se configura como um esforço de transposição para outros espaços, outras paisagens, buscando significado e transcendência para seu gesto, para a sua existência. E ainda que o embate do trabalho com o rela se desfaça de qualquer ilusão ou romantismo quanto as possibilidades de interferência e alteração do mundo, ele, em sua singularidade, propõe uma viagem pelo imaginário como possibilidade de alguma subjetividade, de emergência de um eu afirmativo da vida.
PRODUZIDOS COMO PEÇAS UNICAS, mesmo que algumas vezes utilizando uma mesma matriz, os trabalhos de Aronis articulam-se como uma pesquisa em torno da construção de imagens e de objetos. Imagens que podem ser vistas como um Atlas fabuloso, interpretações de cartas celestes, captações de luzes de estrelas caídas, paisagens sonhadas e nunca alcançadas. Fixadas sobre papel artesanal, elaborando a partir da reciclagem de fibras e de livros naturais já usados e gastos pelo tempo, elas se corporificam como palimpsestos de uma intensa vivencia da matéria, da informação e da memória.
ENTRETANTO, AO LADO DAS METÁFORAS que o trabalho constrói, afirma-se uma investigação sobre as possibilidades do meio expressivo. As vezes, gestos diretos, pulsionais, sobre a placa; outras, exercícios de contensão e disciplina; ou ainda, procedimentos e memórias emprestados de outras linguagens. Usando monotipias, pontas secas e águas-tintas impressas sobre papeis texturados, feitos para cada uma das imagens, o trabalho recorre a todas as qualidades manuais, imaginativas e emotivas. Mas em paralelo à investigação formal evidencia-se a grandeza e o idealismo do sentido da arte para Aronis: dentro de uma sensibilidade neo-romântica, seu trabalho participa, alem do compromisso com a especificidade da linguagem, de um programa onde o oficio é o meio de construção de um sentido ético para ele. Sua estratégia revela que a verdade que a artista busca não reside na literalidade das coisas que representa, mas no recolhimento da imaginação e da sua prática como meio para criar, nomear e acreditar em verdades artísticas."
Ivo Mesquita
FORMAÇÃO:
1976
Licenciatura em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas, Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado, FAAP, São Paulo.
1977/1978
Pós-Graduação em Metal - "Slade School of Fine Arts-University College of London", UCL, com orientação de Bartolomeu Cid dos Santos, Londres, Inglaterra.
1988/1990
Freguenta o Atelier de Gravura Diferença, em Lisboa, Portugal.
1989
Curso de especialização "Gravuras à água-forte" com Bartolomeu Cid dos Santos - Casa das Artes de Tavira, Algarve, Portugal.
1992/1995
Orienta o setor de gravura em metal do Atelier Experimental de Gravura Francesc Domingo do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MAC USP), Coordenação professor Evandro Carlos Jardim.
1998
Orientadora do Atelier de Desenho no Museu Brasileiro de Escultura (MUBE), São Paulo, Brasil.
1999
Mestranda em Poéticas Visuais na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Brasil.
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS:
1994
Contos Portugueses, Gravuras - Museu da Gravura Cidade de Curitiba, Curitiba, Paraná.
1996
Axis Mvndi, Valu Oria Galeria de Arte, São Paulo.
1997
Alma: corte sobre papel - Espaço de Arte Arthur de Mattos Casas e Claudia Vendramini, São Paulo, Brasil.
1999
Valu Oria Galeria de Arte, São Paulo, São Paulo.
EXPOSIÇÕES COLETIVAS:
1972
Jovem Arte Contemporânea - Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP).
1980
Desenho Jovem - Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP).
1981
Gravura Jovem - Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP).
Gravura, Desenho e Aquarela - Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), São Paulo.
1984
Mostra Visual - Galeria Cine Arte, Conjunto Nacional, São Paulo.
1989
Exposição Comemorativa dos 25 anos da Cooperativa Árvore, Porto, Portugal.
IX Bienal Internacional de Arte, Valparaiso, Valparaiso, Chile.
1990
IX Mostra de Gravura Cidade de Curitiba, Curitiba, Paraná.
II Bienal de Gravura da Amadora, Amadora, Portugal.
Mini-Print Internacional de Cadaqués, Cadaqués, Espanha.
1993
Pequenos Formatos e Poucas Palavras, Documenta Galeria de Arte, São Paulo.
Exposição Atelier Experimental de Gravura Francesc Domingo - Museu da Gravura Cidade de Curitiba, Paraná.
1994
Exposição de Gravuras do Atelier Experimental de Gravura Francesc Domingo na Exposição Comemorativa dos 30 anos do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), São Paulo.
Gravura Paulista - Galeria Rubem Valentim, Brasília.
Anos 90, a Gravura Contínua - Centro Cultural São Paulo, São Paulo.
I Bienal Nacional de Gravura de São José dos Campos, São Paulo.
Edição de 100 gravuras para o Clube da Gravura de São Paulo, dirigido por Rubens da Cunha Lima - São Paulo.
1995
Exposição dos 50 anos de Hiroxima, Greempeace - Sesc Pompéia, São Paulo.
1996
Unidade e Contemporaneidade - Valu Oria Galeria de Arte, Espaço Cultural dos Correios do Rio de Janeiro, Brasil.
1997
Contemporary Brazilian Prints - Haggar University Gallery, University of Dallas, Texas, U.S.A.
Contemporary Brazilian Prints - Midwestern State University, Wichita Falls, Texas, U.S.A.
Contemporary Brazilian Prints - Spring Creek Gallery, Collin County Community College, Plano, Texas, U.S.A.
Contemporary Brazilian Prints - University of Texas of the Permian Basin, Odessa, Texas, U.S.A.
Brazilian Prints, Portland Art Museum, Oregon, U.S.A.
Brasil - Reflexão 97 A Arte Contemporânea da Gravura - Museu Metropolitano de Arte de Curitiba, Paraná.
The 19th International Independante Exhibition of Printis in Kanagawa, Japão.
The 4th Sapporo International Print Biennale, Japão.
Pequenos Formatos - Valu Oria Galeria de Arte, São Paulo, Brasil.
1998
Contemporary Brazilian Prints - Abilene Christian Universit, Abilene, Texas, U.S.A.
Contemporary Brazilian Prints - Louisiana State University, Baton Rouge, Louisiana, U.S.A.
2 Salão Sesc de Gravura - Rio de Janeiro, Brasil
Tokyo International Mini -Print Triennial - Tama Art University Museum, Tokyo, Japão.
1999
São Paulo Gravura Hoje - Mostra Rio Gravura-Funarte, Rio de Janeiro, Brasil.
2000 - 3rd Egyptian International Print Trinnale - National Centre of Fine Arts, Giza, Egito.
- Coletiva de Desenhos, Museu de Arte de Ribeirão Preto, S.P., Brasil.
ACERVOS:
- Instituto Itaú Cultural, São Paulo.;
- Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.;
- Museu da Gravura Cidade de Curitiba, Curitiba, Paraná, Brasil.;
- Portland Art Museum, Oregon, U.S.A.;
- Sapporo Internacional Print Biennale, Sapporo, Japão.;
PRÊMIOS: - Menção especial do júri - 2 Salão Sesc de Gravura - Rio de Janeiro, Brasil.
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