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A RESTAURAÇÃO DE UMA AUSÊNCIA - Rian Fontenele


Aqui, pinturas que tentam refazer percursos interrompidos, desviados.

Guardados em algum hiato.

Um caminho-intervalo, para o que ainda desconheço,

e que não se faz visível, nem próximo.

Pinturas nebulosas,

Brumosas, certamente.

Tento refazer o caminho para alguma pintura anterior.

Caminho à uma tessitura do inicio das séries mais sóbrias e tácitas.

À procura de um diálogo que me pareça - em um primeiro instante - um 'fascínio pela heresia',

a desconstrução de toda a pintura mais recente de soma da tinta espessa,

de pigmentos saturados, pelo seu contraste mais direto.

A desconstrução pela ausência e pela singeleza da ousadia monocromática.

O nanquim direto sobre a lona de algodão em aguadas contínuas.

Úmido sobre úmido. Sem interferências.

As cores sóbrias ainda insistentes, mas o exercício por se fazer de fato um elogio á sombra.

Como se estas pinturas etéreas ( ou, a ‘A cor do silêncio além do branco') fossem suavemente adensadas por infindas veladuras.

Instantâneos da tentativa urgente em reconstruir uma imagem insistente antiga.

O exercício de resistência do tempo.

O exercício de nos fazer presente narrativas já gastas.

Vultos, mobiliário, espaço e tempo - uma procissão de imagens - envoltos em fumaça.

Enredos em franco movimento em bailes quase silenciosos.

Uma dança qualquer transpassando um meio denso e aéreo, longe da vida grave.

A figura humana se esforçando por existir em um lugar sem tempo,

em um silêncio metafísico que só pode existe na lembrança.

Sobreviventes...

Penso nesta necessidade de se fazer vivo a recriação destas imagens.

A inútil tentativa de se fazer o passado próximo...

- Deve ao fim, ser algum tipo de enfermidade da memória.

Talvez comece a perceber que isto seja um tema recorrente em todas estas pinturas.

A reconstrução.

Talvez, mesmo, sempre estejamos a recriar o passado.

E este nunca esteja livre, ou protegido de novos enredos inventados que respondam às lacunas.

A ciência de que guardamos algo sempre incompleto, apenas uma parte da verdade.

A verdade sempre incompleta.

Sombras do passado regressando - como sempre - ao anonimato.

Um mundo em que é difícil distinguir entre o real e o simulado.

O imaginado - o criado.

A restauração de uma ausência.

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Rian Fontenele Rian Fontenele
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2013

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