Site Oficial - Ivald Granato
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Máscaras

UM VASTO MATERIAL ICONOGRÁFICO BRASILEIRO E AFRICANO SERVIU COMO BASE DE PESQUISA PARA O ARTISTA ESTREAR NOVA FASE DE TRABALHO.

"Isto não é uma máscara. É simplesmente a maneira visual que Ivald Granato encontrou de entrar em contato com elementos arcaicos de seu psiquismo e da memória brasileira. Ivald Granato rodou o mundo inteiro, praticou todas as instalações possíveis e foi um rebelde profissional de performances provocativas e, agora, por um momento, recolheu-se em si mesmo, contempla a sua própria vida e se reconcilia com o seu país.

E eu, por meu lado, pensei que poderia resistir a parodiar o conhecido ensaio de Michel Foucault sobre Magritte, Isto não é um cachimbo, mas foi impossível. Por alguns meses tenho acompanhado esta incursão de Granato, o seu impulso em direção ao desconhecido e a recuperação que faz de aspectos obscuros da infância. O surgimento de suas máscaras foi, desta maneira, baseado na intuição, no gesto não premeditado, na mais pura e comprometida inocência. Depois, no meio do caminho, o artista não encontrou uma pedra, mas cercou-se de vasto material iconográfico sobre as máscaras africanas e brasileiras.

A historia das máscaras acompanha a história do homem. Não se conheceu nenhuma civilização que não tivesse algum tipo de máscara. Ela está presente nas cerimônias religiosas, nas praticas da guerra, no teatro. É do teatro grego, no qual o ator significava a emoção através do uso da máscara, a persona, que nós adquirimos a personalidade. E, em "máscara" do corredor automobilístico?

Veja como se comportou o artista nesta circunstancia tão especial se seu percurso. Primeiro, ele brincou com o assunto, lembrou-se sarcasticamente dos seus canaviais, dos blocos de sujos e dos Clóvis, manifestação teatral popular em que um anônimo mascarasdo invectiva um popular qualquer e lhe diz coisas ofensivas, denunciadoras e proibidas. Em segundo lugar, fez releituras dos nossos mitos indígenas e folclóricos e redesenhou este acervo magnífico de imagens. E, finalmente, Ivald Granato configurou máscaras ancestrais e imaginarias e ai a sua atitude foi de profunda reverencia. O artista fez uma longa viagem na qual encontrou-se, ao final, com o misticismo. Na carreira desse artista este é um momento crucial, pois ele abandonou o seu habitual procedimento, o de manipular criativamente elementos da comunicação de massa e da história da arte, para um mergulho em busca de valores simbólicos. Essa alteração ocorre em plena maturidade do artista e aponta para um enriquecimento de seu universo e para uma maior diversidade em seus temas habituais. Ivald Granato é um artista com 35 anos de trabalho e pesquisa permanente e contínua. Nesse período, desenvolveu uma extensa obra na qual incursionou nas mais variadas técnicas e procedimentos: desenho, pintura, gravura, objeto, sistemas de multimídia, performances, cerâmica, escultura. Em todos esses campos, o artista foi capaz de destacar-se por meio da originalidade das suas concepções, do talento para a pintura e o desenho e de grande disciplina pessoal e de uma vitalidade a toda prova. O que resultou num conjunto estético impressionante pela qualidade, oportunidade e volume. Agora, com estas máscaras, o mundo do artista ampliou-se e o seu trabalho renova-se ao encontrar um material tão antigo."


texto: Jacob Klintowitz

publicado em: Revista Vogue