principal e-mail
Dionisiacas



Sobre Dionísio
Atenas, até o final do século VII ac, foi dominada pela aristocracia dos Eupátridas, os nobres, que sendo os únicos que tinham o direito de armar-se, eram os únicos que podiam defender a pólis, apropriando-se da mesma. Assim, o governo, as terras, o sacerdócio e a justiça (expressa pela vontade divina) somente a eles pertenciam. Senhores de tudo eram também senhores da religião. Seus deuses olímpicos e patriarcais (Zeus, Apolo, Posídon, Ares, Atena...) eram a projeção de seu regime político que em troca de hecatombes e renovados sacrifícios, mantinham o seu status quo.

Somente no século VI ac, com o enfraquecimento militar e político dos Eupátridas, lançam-se em Atenas as primeiras sementes da democracia, o povo começa a ter certos direitos, as sementes frutificam rapidamente e Dionísio, seguido de suas Mênades ou Bacantes faz sua entrada triunfal na pólis.

Dionísio é um deus humilde, deus da vegetação, dos campônios, o menos político dos deuses gregos, não se conhece cidade alguma que tenha se colocado sob sua proteção, na realidade, ele permaneceu estranho à religião da família bem como a da pólis. Segundo Mircea Eliade, Dionísio devia provocar resistência e perseguição, pois a experiência religiosa que suscitava punha em risco todo um estilo de vida e um universo de valores. Dionísio é o deus da metamórphosis, da transformação, o homem que é arrebatado pelo deus, transportado para o seu reino através do êxtase torna-se diferente do que era no mundo quotidiano. Os devotos de Dionísio, após a dança ritual caíam semidesfalecidos e nesse estado acreditavam sair de si pelo processo do êxtase numa espécie de "mergulho" no próprio deus através do entusiasmo, palavra chave que significa "estar animado de um transporte divino", nada mais oposto a ética rigorosa de moderação e comedimento do "nada em demasia" da doutrina apolínea. Evidentemente essa superação da condição humana e essa liberdade adquirida através do êxtase constituíam uma liberação dos interditos e tabus, de regulamentos e convenções de ordem ética, política e social, o que explica a adesão maciça das mulheres as festas de Dionísio, visto que em Atenas as coisas eram claras: nada mais reprimido e humilhado do que a mulher.

Antes de Dionísio, costumava-se dizer, havia dois mundos: o mundo dos homens e o inaccessível mundo dos deuses, a metamorfose foi exatamente a escada que permitiu ao homem penetrar no mundo dos deuses. Dionísio simboliza as forças obscuras que emergem do inconsciente, pois se trata de uma divindade que preside á liberação provocada pela embriagues, por todas as formas de embriagues, a que se apossa dos que bebem, a que se apodera das multidões arrastadas pelo fascínio da dança e da música e até mesmo da embriagues da loucura. Desse modo Dionísio retrataria as forças de dissolução da personalidade: a regressão as forças caóticas e primordiais da vida.

Extraído do volume II de Mitologia Grega
De Junito de Souza Brandão

principal e-mail


Copyright 2017 Pablo Di Giulio