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texto Carlos Von Schimidt

A arte do visível

Bilhardário, Jean Paul Getty, dono da Getty Oil e de mais de duzentas empresas, nasceu nos Estados Unidos em Minneapolis em 1892. Morreu em 1976 na Inglaterra, em seus domínios de Sutton Place, onde viveu desde os anos 50.

Além do petróleo, o interesse maior de Getty eram as artes plásticas. Sua coleção faz parte hoje do J.Paul Getty Museum em Malibu, Califórnia.

Considerado o mais rico do mundo, o museu recebeu de Getty setecentos e cinqüenta milhões de dólares de doação.

E daí? O que Milton Jeronimides, Jeron, tem a ver com Getty? Muito!

Getty costumava dizer que sempre que tinha que escolher um executivo para suas empresas selecionava aquele que além de preencher todos os requisitos necessários freqüentava exposições de arte, museus e galerias.

Gostar de arte, interessar-se por ela, fazia, para o homem mais rico do mundo enorme diferença. Era condição sine qua non . Contava muito.

Sem a menor dúvida, se Jeron fosse candidato a uma das vagas de engenharia eletrônica, Getty o escolheria. As características profissionais de Jeron aliadas a outras que uma minoria tem, fariam dele um candidato ideal.

Jeron não se limitou às áridas fronteiras impostas pela engenharia eletrônica. Não! Ultrapassou-as.

Perdeu-as de vista quando deu de cara com a tela virgem no cavalete e o pincel na mão.

Talvez tenha fechado os olhos como Gaugin fazia para enxergar.

E o que viu?

O que viu é o que pintou.

E o que pintou?

É o que está na tela.

Óbvio, estou ouvindo alguém dizer.

Mas não é tão óbvio assim.

À primeira vista pode parecer que Jeron é mais um dos milhões de pintores abstratos que apareceram depois da Segunda Guerra Mundial

Não é!

Nasceu em 1958 em Chipre, na Nicósia. Dois anos depois estava no Brasil.

Aqui cresceu, estudou, virou homem.

Na década que passou, começou a pintar. Virou Jeron.

Estivéssemos na Renascença com certeza estaria na loggia de um mestre.

Em nossos dias o longo aprendizado da pintura, da escultura nas loggias venezianas, florentinas e romanas, acelerou-se.

Nos ateliês de pintores contemporâneos aprende-se rápido. Muito depressa. O tempo é outro. O byte substituiu o átomo. O pixel, o milímetro.

Hoje, dez anos na vida de um jovem artista corresponde no mínimo a cinqüenta de um renascentista. Essa diferença é fundamental. A dinâmica vital é outra. O ritmo também.

A partir do momento em que Jeron fez sua primeira exposição no MuBe, Museu Brasileiro da Escultura, em outubro de 2002, não parou de expor. Fez mais uma em 2002 e outra em 2003. De coletivas, participou de três.

Nas telas que vi da série Fôrmas do Mundo, pintada ano passado, Jeron se exprime através de incessante procura. Há nessa pintura aparentemente fácil, busca permanente. De fácil não tem nada.

Na tela o diálogo que se estabelece é entre a fôrma e a forma. Na sutileza desse circunflexo está toda a diferença.

Literalmente a fôrma é ”o modelo oco onde se põe metal derretido, material em estado plástico, vidro ou qualquer líquido, que se solidificando, tomará a forma desejada, molde”.

A forma corresponde “aos limites exteriores da matéria de que se constitui um corpo, e que a este confere feitio, configuração, aspecto particular”.

Para Jeron fôrma e forma são pontos de partida, não de chegada. Entre os dois pólos sua pintura está nascendo. Há muito pela frente.

Escrever sobre a nascente pintura de Jeron é instigante.

Observando as formas, as cores, os grafismos, as sobreposições, a inter relação das imagens em situações múltiplas, os planos que se opõem ou se completam, algo me levou a Paul Klee.

Por quê a Klee e não a Kandinsky?

Porque Klee, soldado do exército alemão em 1918, na Primeira Grande Guerra Mundial, provavelmente escreveu em uma trincheira o ensaio, Schöpferisch Konfession, Credo Criativo, em que diz: “A arte não traduz o visível, ela torna visível”.

Klee enfatiza a natureza subjetiva da inspiração do artista e descreve como os elementos gráficos – ponto, linha, plano e espaço, – são acionados a partir de uma descarga de energia que ocorre no espírito do artista.

Para Klee e para os futuristas, “a arte pictórica nasce do movimento, é movimento fixado e percebido através de movimento”.

“O impulso criativo subitamente brota para a vida, como uma chama, passa pela mão e vai para a tela, onde se espalha até que, como faísca que fecha um circuito elétrico, volte à fonte: olhos e espírito”.

Quando Jeron disse que “pintura é reflexo. O meu reflexo é movimento”, suas palavras fizeram eco às de Klee.

Esse reflexo, esse movimento fazem parte da chama, da faísca que libera o gesto que dirige a mão que se movimenta sob o olhar atento do artista.

Em suas pinturas da série Fôrmas do Mundo há momentos em que Jeron deixa o Expressionismo Abstrato dominar. Em outros, formas geométricas determinam a composição. É a hora da geometria sensível, poética, lírica.

Páginas de um diário como diria Picasso, cada tela tem uma vida própria. Vida que o artista, como observou sabiamente Pollock, não controla.

No momento em que ele, artista, dá o toque final à tela, a pintura assume integralmente sua existência. Sua essência. Passa a ser uma obra de arte. Autônoma.

Acredito que Jeron sabe disso. Cada tela que assina significa um segundo, um minuto, uma hora, um dia, um mês, um ano de sua vida.

Cada uma é sua forma de tornar visíveis fôrmas e formas invisíveis.

São Paulo 15 de maio de 2004 15h15

Carlos von Schmidt
Curador e crítico de arte


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