Arpoador
2000
Texto de Diógenes Moura:
"O morro carioca escorregou para a areia molhada do Arpoador. Levou a história dos seus moradores para a água salgada, entre as sombras das montanhas e o sol quente que os pés descalços ardem sobre o asfalto. Pablo riscou seu olhar sobre os recortes dos corpos em branco e preto para arriscar o amor no que ele tem de mais gigantesco: quando encontra a natureza no espaço público e o morro não é morro nem nada. É céu azul, dia de domingo. Isso basta. Às vezes aparecem em grupos, irmanados na mesma história, como se em silêncio contassem segredos, um para o outro. Mais adiante movem-se independentes seguidos pela sombra, riscos finos à beira mar. Por um instante podem "ver" a câmera e os olhos do fotógrafo, que ao vê-los registra na memória da fotografia e pode perguntar-se: barcas de lua cheia sobre água azul prata, de onde vem tua imagem, todo esse sol, do mar, de Deus?"
Texto de Emanoel Araujo:
"O Arpoador é uma pedra que o mar açoita como se fizesse uma onda sonora, chamando o povo no Domingo, para ouvir esse canto do mar, entre Copacabana e Ipanema. O Arpoador sempre me lembra a pintora Leda Seixas, que ali pescava todos os sábados os mexilhões das suas famosas moquecas. Mas isso é uma outra história. O que quero aqui é chamar a atenção para esses instantes fotográficos de Pablo di Giuglio. O que quero é rever esse seu povo que desce do morro; que chega da Zona Norte e habita como se apropriando da nobre areia vizinha de Ipanema. O que quero é exaltar esses corpos mulatos, morenos, negros e sararás do nosso povo do Arpoador. O que quero é deixar translúcido a densidade do olhar de Pablo, o drama que nele contém em cada silhueta que esses mesmos corpos significam, como no teatro chinês - e se esse drama os torna mais anônimos: tão anônimos quanto esses mesmos personagens perdidos num Domingo de sol. Tudo isso sugere uma tragédia perdida no tempo. Um arrepio da própria vida olhando essas duras vidas excluídas, perseguidas, solitárias, que ele mesmo, Pablo, não ousa revelar na pura poesia da sua construção em preto e branco, de um grito parado no ar do mormaço de um verão do Arpoador."
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Copyright © Pablo di Giulio
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